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Faz 20 anos. Será que aprendemos algo com a morte do Dimebag?


Fonte: Furia Metal MTV
Fonte: Furia Metal MTV


Faz tempo que não escrevo, muito tempo mesmo. Existem vários motivos para isso, mas o principal é: cansei. A gente cansa, não é mesmo? Na adolescência, pensamos muito sobre o futuro, sobre coisas que poderemos ser, e a música, de certa forma, acompanha todas essas nossas expectativas. Não é por acaso que nosso primeiro contato com bandas mais thrash ou punks tem relação direta com a energia que precisamos desprender nessa época. Essa época de descobertas carrega universos e universos de possibilidades, sendo a música um condutor natural para experiências mais ou menos radicais, mais ou menos políticas, mais ou menos românticas e por aí vai.


E não estou falando disso por acaso, pois lembrei e refleti um pouco sobre isso nos últimos dias, depois que um colega enviou um vídeo antigo sobre o metal veiculado em 2004. O vídeo em questão: uma reportagem do Jornal da Globo, relacionando a morte de Darrell com a “banalização da violência” (8 de dezembro de 2004). Claro que a reportagem é filha da sua época, mas vou extrair algumas frases interessantes:


  • “Algumas bandas ficaram famosas pela violência que demonstram e provocam”

  • “É a violência abatendo quem prega a violência”

  • “O que era liberdade cai na violência”

  • “O heavy metal e o punk vão glorificar o barulho e o ódio”

  • “Os shows de rock viram missas negras que lembram comícios fascistas”

  • “Música péssima, sem rumo e sem ideal”

  • “Sobra o ódio e o ritual vazio”

  • “A cultura e a arte foram embora e só ficou a porrada”


É interessante imaginar que John Lennon, morto por um fã, não era nenhum símbolo do metal. Na verdade, infelizmente, não faltam casos — basta procurar na internet exemplos de vítimas, de atletas a divas pop. A violência é inerente ao ser humano (Freud). Não é à toa que a arte se apropria dela em várias manifestações. O instinto de agressividade e a reflexão sobre a morte são bases para filmes, livros, novelas, artes plásticas e assim por diante. A diferença é que não costumamos ver jornalistas criticando filmes de terror ou exposições como berços de psicopatas, apesar de sempre haver uma mídia radical a fim de culpar alguém pela maldade humana.


Ultimamente (e leia-se ultimamente como os últimos 10 ou 20 anos), os culpados por isso são os artistas mais progressistas, os videogames e, claro, a cena do metal. Lembro de reportagens sobre como o RPG levava jovens à morte ou, mais recentemente, um tal de Dante Mantovani, que passou pela Funarte, dizendo que rock leva ao aborto e satanismo.

Passada a adolescência, hoje percebo que esse debate será eterno, com momentos mais intensos, como provavelmente veremos nos próximos anos. À medida que religiões mais conservadoras se envolvem com política, teremos reflexos na cultura, especialmente nos campos mais marginalizados. Eu poderia me estender aqui explicando que dentro do Metal existem várias vertentes, do metal cristão ao metal satanista, do metal politicamente de direita ao metal comunista, mas isso não vem ao caso.


A questão é que esses micropoderes (Foucault) continuarão existindo, ocupando e lutando por espaços e, às vezes, ganharão holofotes da grande mídia. Recentemente, tivemos mais um caso interessante: a apresentação do Gojira na abertura da Olimpíada. Com muito fogo, simulações de sangue e a Maria Antonieta decapitada, o espetáculo foi lido erroneamente como uma “apresentação satanista” por muita gente que não entende minimamente da história da França. Restou ao próprio vocalista e guitarrista da banda a incrédula tarefa de ter que explicar a performance:


“Não há nada de satânico — defendeu-se Duplantier — É história francesa. É o charme francês, sabe, pessoas decapitadas, vinho tinto e sangue por todo lugar. É romântico, é normal” (O Globo).


Interessante que usei aqui uma reportagem da Globo para começar o texto e também fecho com uma entrevista do mesmo grupo. Faço isso intencionalmente, para mostrar que um mesmo grupo, um mesmo veículo ou até mesmo um mesmo jornalista são construções do seu tempo. Se antes a Globo não refletia sobre a potência da arte, da música, do metal na expressão do ódio, hoje, talvez seja diferente.


Bandas como o Gojira estão aí para mostrar que não é apenas ódio, que não se trata de um ritual vazio. Junto com o ódio temos o amor, temos a compaixão, a raiva, a angústia, o medo, a ansiedade, entre outros. A diferença é que quando esses sentimentos são expressados em um Divertida Mente da vida, tudo bem; a indústria em si legitima a obra por uma série de questões. Mas quando esses sentimentos são explorados por jovens “sem muitas perspectivas”, através da música, expondo sua radicalidade em letras e “barulho”, a crítica tende a ver essa expressão com outros olhos.


Nada de novo no front. À medida que o rock envelhece, novos atores e novas margens vão sendo estabelecidas. Sempre haverá sobrevida para aquele que tenta transcrever ou transpor o ódio para um manifesto artístico, seja ele qual for. E sempre haverá alguém querendo audiência em cima disso, seja essa opinião qual for. Afinal, até a inveja é um sentimento igualmente inerente às nossas vidas.


Link reportagem Jornal da Globo - Furia Metal MTVhttps://www.instagram.com/reel/DDUntd6Rb75/?igsh=MW9tNm51OWRkOWs1dA%3D%3D


Reportagem - Gojira na Olimpíada:


Por Marcus V. Carvalheiro.


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